Este blog, mais do que um espaço de acontecimentos e de recordações, num ponto de vista geral e abrangente, sempre optei para que fosse um espaço de memórias, reportadas naquilo que foi a minha experiência, ou lembrança pessoal, em relação às mesmas.
Mesmo assim, não tenho feito dele, um espaço onde é habito falar de mim ou da minha vida particular.
No entanto, hoje, numa data que me é impossível de esquecer, decidi falar de algo que eu próprio senti na pele, diria mesmo, nos ossos.
No entanto, hoje, numa data que me é impossível de esquecer, decidi falar de algo que eu próprio senti na pele, diria mesmo, nos ossos.
O dia 9 de Maio, teima em não ser um dia dado a grandes motivos de celebração familiar. Quis o destino, ou a mera coincidência, que sempre nesta data houvesse um familiar meu a ser hospitalizado.
Depois de um tio e do meu próprio pai, a 9 de Maio de 1985, faz precisamente por esta hora 25 anos, foi a minha vez de dar entrada no Hospital Distrital da Covilhã.
Numa Quinta-Feira, perfeitamente igual às outras, em que o período de aulas, nesse dia da semana, só começava na parte da tarde e com a disciplina de Educação Física, acabei por ir parar ao hospital, com uma dupla fractura do braço direito.
Tudo aconteceu no decorrer dessa aula, no Pavilhão da INATEL, quando num salto em altura e após uma chamada mal calculada, acabo por cair numa das pontas dos colchões e nesse desequilíbrio, caio mal e com o braço direito por debaixo do próprio corpo.
O som foi algo de inexplicável, mas a sensação, como se um poderoso choque me tivesse adormecido o corpo, completamente indescritível.
Fui conduzido ao Hospital, no carro, e pelo próprio professor de Educação Física e por lá fiquei durante 3 semana.
Nesse espaço fui operado e deste acontecimento tenho cicatrizes que me acompanham há 25 anos e que me acompanharão até ao último dia de presença neste mundo.
Foi assim o início de um período, que se estendeu pelo Verão de 1985. No fundo, foram precisos mais de 2 meses, para que me visse livre do gesso, por completo, em que muitas são as memórias, tanto boas, como más.
Recordo-me que fui forçado a ter de aprender a escrever com a mão esquerda, o que nem foi mau de todo e do esforço que foi recuperar hábitos, até aquele dia 9 de Maio, completamente banais.
Tenho também boas memórias do tempo em que estive internado. Das amizades que por lá fiz, com quem, como eu, ali recuperava as mazelas desta vida.
Especialmente dois jovens, que devido a acidentes, estavam encravados nas suas camas, enquanto os ossos da perna e da bacia, não lhes permitiam voltar à vida normal.
Como a minha mobilidade era possível, servi muitas vezes de correio entre um quarto e o outro, quer levando e trazendo livros, quer trocando as cassetes, para que pudéssemos ir passando as longas horas desses dias.
A música esteve sempre presente, quer através do que ouvíamos, num pequeno rádio que tínhamos no quarto, quer através de um walkman, onde rolavam as nossas cassetes.
Algumas canções recordam-me sempre esses tempos;
- "Shout" e "Everybody Wants To Rule the World" dos Tears For Fears, "I Want To Know What Love Is" dos Foreigner, "We Close Our Eyes" dos Go West, "So Far Away" dos Dire Straits, mas, mais ainda "Kiss Me" de Stephen "TinTin" Duffy, grande êxito na altura e uma das minhas musicas preferidas naquele momento.
A recuperação estendeu-se por vários meses, grande parte durante o caloroso Verão de 1985, altura em que se realizou o Live Aid e em que me vi forçado a ter um período mais caseiro, o que se traduziu, num, ainda maior, mergulho na música e na descoberta da mesma.
Hoje, 25 anos depois, tudo parece banal, mas quando se tem 15 anos de idade, todas as tragédias ou alegrias são vividas de forma muito mais intensa. São momentos que ficam para sempre e que o tempo nos ajuda a retirar, o que de melhor se pode tirar, inclusive de um momento mau e a não esquecer, mas sobretudo desvalorizar, o pior de tudo isso que nos aconteceu.
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