[Fundação Atlântica - 1984]
Ao contrário do que aconteceu com a musica internacional, 1984, em termos de produção discográfica nacional, foi um dos anos mais fracos da década.
Um ano com muito poucas edições nacionais, o que reflecte um pouco o que se passou no cenário "pop/rock" português, naquilo que ficou conhecido como "a ressaca do "boom" do rock português".
Isto porque, desde a edição e estrondoso sucesso de "Chico Fininho" tinham sido centenas e centenas as edições nacionais que chegaram ao mercado.
Com a saturação desse fenómeno, dá-se, como é habitual, o efeito contrário. 1984 foi um desses anos de contenção e de desconfiança, relativamente ao produto "pop/rock" português.
Mas na minha opinião, esse foi também o ano da mudança. O ano que se lançaram várias sementes, que haveriam de dar frutos já em 1987/88, com uma nova formada de grupos e projectos portugueses que deram à Musica Moderna Portuguesa a um rumo, conduzindo-a ao que hoje conhecemos.
Nesse ano de certa acalmia editorial, houve coisas boas a serem lançadas em Portugal. Agora já não tinham a adesão eufórica do publico, como tinha acontecido anos antes, mas essas edições demonstravam muito mais qualidade e vontade em trilhar um caminho, mesmo que mais difícil e afastado da ribalta, muito mais seguro e sustentado.
Um desses discos foi este single dos XUTOS & PONTAPÉS. Depois das aventuras na Rotação de António Sergio, depois do mal compreendido, mas histórico, "78/82", a banda de Kalú, Tim e Zé Pedro, regressa neste 7 polegadas, com 2 temas do melhor que o rock português conheceu.
Agora com selo da Fundação Atlântica, o selo nacional mais importante do ano de 1984, os XUTOS & PONTAPÉS editam "Remar, Remar", contendo como lado B o tema "Longa Se Torna A Espera". Ambas faixas tiveram produção a cargo de Ricardo Camacho.
Por esta altura, a banda era já alvo de um pequeno culto, sobretudo, junto do publico que frequentava o Rock Rendez-Vous. Mas os poucos programas de radio que passavam musica nacional, caso do "Cor do Som", começavam também a espalhar esse culto, um pouco por todo o país. Mas era algo muito pequeno, algo fechado, era um culto "underground", bem diferente do que se tinha passado com os Taxi, os UHF, o Rui Veloso, os GNR, etc...
Que dizer mais destes 2 clássicos?
"Remar, Remar", "Longa Se Torna A Espera", dois dos melhores momentos de sempre do "rock português", contidos neste pedaço de vinil.
Nestes menos de 10 minutos de duração, mas que nos oferecem mais, que uma ou duas dezenas de álbuns nacionais, publicados nas últimas duas décadas.
Sem comentários:
Enviar um comentário